QUE TURISMO QUEREMOS ?
A atividade turística vem apresentando uma importância expressiva para a atual sociedade, seja em termos econômicos, ambientais ou culturais. O aspecto mais salientado no que se refere ao turismo são suas repercussões econômicas, discurso este ainda muito presente na argumentação de muitos políticos e de alguns membros do setor privado. Tal visão mostra-se um tanto reducionista e arcaica não expressando, assim, toda a complexidade do fenômeno turístico. O turismo não é apenas uma atividade econômica como muitos acreditam, suas implicações envolvem muitos setores da sociedade e os mais diversos sujeitos. O turismo não é um sistema auto-suficiente, pelo contrário ele é interdependente e configura-se como mais um setor da sociedade e para que este produza os benefícios de que tanto se houve falar, é necessário que outros setores da sociedade estejam funcionando de maneira satisfatória e em sintonia com o turismo.
Como nos lembra a ABAV “a atividade turística prescinde do relacionamento humano, da troca de experiências, do contato entre culturas. Isso é geração de empregos diretos. Para que se desenvolva, o turismo necessita de bons equipamentos de lazer, de comércio de qualidade, de hospedagem e de entretenimento. Isso é geração de empregos indiretos. O Turismo se desenvolve com maior rapidez em destinos que tenham bons aeroportos, boas rodovias, segurança e limpeza, tudo colocado à disposição, primeiramente, dos seus moradores. Isso é qualidade de vida pois o turismo se desenvolve em locais que sejam bons para se morar”.
Dentre as premissas que permeiam a discussão sobre o turismo destaca-se a importância da integração e participação da sociedade em todas as fases do processo de desenvolvimento turístico. No processo de planejamento da atividade turística deve-se identificar os envolvidos direta e indiretamente com o setor, e verificar seus interesses e a forma como vão ser atingidos pelo processo de desenvolvimento turístico. Antes de mais nada é necessário questionar: será que os municipes, o governo e a iniciativa privada querem e realmente precisam do turismo, mesmo sabendo que este pode gerar tanto impactos positivos quanto negativos? Estariam estes atores preparados para as conseqüências gerados pelo turismo?
Não basta apenas planejar o turismo para a comunidade, mas também planejar juntamente com a comunidade. Também é valido salientar que consulta popular não é o mesmo que participação popular, pois enquanto a primeira pressupõe uma consulta pontual em um determinado momento, podendo muitas vezes se apresentar como uma pseudo-democracia para legitimar aquilo que já estava decidido, a segunda pressupõe uma participação efetiva durante todo o processo, desde a concepção do planejamento turístico, até sua efetivação, monitoramento e reavaliação.
E se realmente queremos desenvolver o turismo, que tipo de turismo queremos? Será que o tipo de turismo que desejamos é compatível com nossos atrativos turísticos, com nossos equipamentos e serviços, nossa infra-estrutura, nossa mão-de-obra? Como queremos receber turistas se não possuímos as condições mínimas de acesso, alimentação e estadia? Será que teremos demanda para o produto que estamos oferecendo?
Antes de pensar o turismo, é necessário verificar a situação sócio-econômica da população e verificar o grau de satisfação destes com a sua cidade. Afinal, como pretendemos possuir apoio da população local nos projetos turísticos, se estes não se sentem bem em sua própria cidade? Como pretendemos que a população forneça informações sobre os atrativos turísticos se nem mesmo ela conhece? Como esperamos que a população se conscientize da importância do turismo se muitas vezes eles não possuem água tratada e sistema de esgoto em seus bairros ?
Não existem modelos de desenvolvimento turístico que possam ser aplicados a todos os lugares, pois cada local possui suas particularidades. Mas independentemente do modelo de desenvolvimento turístico que se adote, o município deve almejar um desenvolvimento sustentável do mesmo. O Prof. Dr. Mário Carlos Beni, lembra que a sustentabilidade no turismo deve primar pela sustentabilidade ecológica, ambiental, econômica, espacial, cultural, politico-social e institucional. Se tais pressupostos não forem respeitados poderão ocorrer práticas turísticas predatórias, podendo ocasionar um processo autofágico do turismo e prejudicando outras atividades.
No que se refere as políticas publicas municipais do turismo deve-se buscar (na medida do possível), a integração as políticas regionais, estaduais e nacionais o turismo de modo a obter maiores vantagens e benefícios. Neste sentido, especial destaque se dá as iniciativas de desenvolvimento regional, como por exemplo, a Serra Gaúcha, onde se criou o Núcleo de Pesquisa em Turismo e Desenvolvimento Regional através da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo assessorar os diversos setores da sociedade no processo de desenvolvimento turístico regional. A presença da universidade neste contexto é de suma importância uma vez que esta exerce um papel de moderação dos interesses entre os setores e também assegura que as ações regionais possuam continuidade política, pois diferentes dos governos, as universidades não possuem uma descontinuidade política. È válido destacar que a integração regional do turismo é mais complexa do que a simples proposição de roteiros regionais que transpassam municipios.
Segundo Mário Beni a integração regional do turismo promovida através do que ele denomina “cluster turístico” “permite transferir benefícios de uma região mais rica a outra mais pobre, contribuindo para um melhor equilíbrio inter-regional. Ou seja, eleva as condições de vida das comunidades envolvidas pelos avanços em infra-estrutura e serviços proporcionados pelo turismo, ao mesmo tempo em que estimula e favorece o crescimento de outras atividades, provocado pelos investimentos turísticos''.
Muitas outras tendências da atualidade poderiam ser apontadas, porém, não nesta ocasião, em virtude do espaço que se tem disponível como também da complexidade do fenômeno turístico. Mais do que uma visão global da sociedade e das tendências desta e do turismo é necessário que os líderes municipais, a iniciativa privada, o terceiro setor e a comunidade debatam sobre as suas realidades, de maneira democrática e participativa e assim decidam que turismo eles desejam.
É importante acreditar em um turismo que seja conduzido de maneira ética e profissional, que respeite as diferenças, pois só assim ele pode se tornar um mecanismo de desenvolvimento não só econômico, mas principalmente social, capaz de proporcionar inclusão e integração social, contribuindo de maneira efetiva para a amenização das desigualdades sócio-econômicas.
Luiz Fernando Roscoche
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