Muitas pessoas acham que a vida de professor é uma grande moleza. Vamos trabalhar com um exemplo de um professor que ministra 20 horas-aula por semana na rede estadual de ensino. Na verdade, essas 20 horas-aula acabam se tornando 25 horas-aula, porque o Estado paga uma aula-preparo para cada quatro aulas efetivamente ministradas. Ou seja, para cada quatro horas o professor tem uma hora livre para que ele possa planejar suas aulas, pesquisar, corrigir provas, elaborar provas, corrigir trabalhos, etc.
O que de fato ocorre é que essas aulas preparo são uma “grande piada”, pois não permitem que o professor realize todas as atividades expostas acima. O professor que ministra 20 horas aula por semana pode possuir aproximadamente oito turmas. Se considerarmos que cada turma possui em média 35 alunos, teríamos um total de 280 alunos. Agora imaginem que para cada turma dessas, os professores tem que preparar aulas, elaborar exercícios, etc.
Um dos momentos mais extenuantes para os professores são as épocas de provas. Se antes os alunos realizavam uma recuperação apenas no final do ano, hoje o sistema paternalista de ensino possibilita que o aluno realize duas provas em cada bimestre. Caso não atinja a média ele poderá realizar uma avaliação de recuperação. Então, para cada bimestre o professor tem que elaborar 24 tipos de provas e corrigir 840 provas. Isso mesmo, 840 provas no mínimo, pois a proposta pedagógica do Estado prevê que as avaliações sejam continuadas, ou seja, podem existir muitas outras avaliações que o professor considerar necessário. Nesse sentido não estamos falando apenas de provas escritas, mas de provas orais, seminários, debates, jogos, etc. Mas considerando apenas as provas escritas obrigatórias, se considerarmos que cada prova leve 10 minutos para ser corrigida, o professor levaria 140 horas para corrigir todas. Somente no primeiro bimestre o professor deveria ministrar ao todo 275 horas-aula, ou seja, seriam necessários mais de 50% das horas-aulas para a correção de provas, sem considerar o seu processo de elaboração.
Por essa razão, muitos professores preferem realizar provas objetivas que são mais fáceis e rápidas de corrigir. O mais impressionante é que, mesmo com todas essas regalias, alguns alunos conseguem a “façanha” de não atingir a média, que em certas escolas é de 60 pontos.
Bem, mas nem tudo são avaliações. Existem também os trabalhos que, na maioria das vezes, são cópias mecânicas da internet ou de livros, muitos entregues em estado deplorável, folhas amassadas do caderno, ainda com picote, borrados, etc.
Considerando que em cada bimestre os alunos realizem dois trabalhos e supondo que cada trabalho tenha em média quatro páginas, os professores deverão ler cerca de 6.720 páginas nesse período. Supondo que o professor leve em média 1 minuto para ler cada página de trabalho e corrigi-lo, seria necessário nada menos que 112 horas para ler e corrigir todos os trabalhos de seus alunos.
Para aqueles que estão acompanhando o raciocínio, vamos relembrar que em um bimestre o professor teria 275 horas-aula. Dessas, 140 seriam destinadas à correção de provas e mais 112 horas para correção de trabalhos, totalizando, portanto, 252 horas, e sobrando apenas 23 aulas para serem efetivamente ministradas com explicações e conteúdos. Se os professores não forem interrompidos por avisos da equipe pedagógica, direção ou vendedores de livros e se os alunos cooperarem talvez ele consiga utilizar suas preciosas 23 aulas.
Claro que os professores não passam o ano todo em função de provas e trabalhos. Assim, devemos concluir que os professores realizam uma jornada dupla de trabalho e levam trabalhos e provas para corrigir em casa. As exigências sobre o professor chegam a ser desumanas, e as demandas de autoridades para que os professores sejam mais inspirados, motivados e atualizados em relação as suas aulas chega a ser ridículo mediante essa lógica. Exige-se que o professor cumpra o papel de psicólogo, amigo, pai, mãe, orientador moral e espiritual dos alunos, etc, etc, etc...
Os professores realmente interessados em ensinar não encontram condições adequadas para desenvolver aulas com a qualidade tão almejada por ele próprio, pelo governo, pais e alunos. Sem dúvida esse é um sistema que oferece muito pouco e exige muito e que prejudica quase todos.
No momento em que nosso sistema de ensino começar a demandar mais atenção a aspectos qualitativos sobre aspectos quantitativos, aí sim teremos um verdadeiro avanço.
Prof. Msc. Luiz Fernando Roscoche
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