Se um dia pedirem para que você escolha entre o dinheiro e espiritualidade questione ao seu inquiridor se ele escolhe entre discurso ou prática. Algumas religiões orientais acreditam ser possível tentar equilibrar essas duas faces indissociáveis da vida.
É muito relevante a discussão sobre as problemáticas inerentes ao sistema capitalista e a forma perversa como este vem operando em nossa sociedade, gerando pobreza, desigualdade e todo tipo de infortúnio.
Porém, é engraçado escutar algumas criticas da igreja contra o sistema capitalista, pois, por muito tempo, Estado, capital e igreja tiveram (e em alguns casos ainda tem) uma relação muito estreita e intima.
Durante um longo tempo, pregou-se que o dinheiro, o lucro, a riqueza eram coisas mundanas e até pecado. Dizia-se que seria “mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar para o reino dos céus”. Muitas pessoas se culpavam por terem dinheiro e riquezas e para aliviar sua culpa, faziam vultosas doações para as igrejas. Essa lógica que enaltecimento da pobreza seria uma forma acomodar as classes mais pobres para que não almejassem melhorar de vida e evitar que estas de rebelassem contra o poder vigente.
Alguns religiosos dizem que a economia não é uma “coisa do Diabo”, mas criticam a forma como a economia é gerida. Segundo eles, a crítica não se dirige a nenhuma instituição ou pessoa especifica, mas sim, a mentalidade de concentração de renda que permeia a sociedade. E é aí que se iniciam algumas contradições do discurso e da prática de algumas religiões.
Como criticar a concentração de renda quando algumas igrejas possuem verdadeiras fortunas? Somente uma igreja em nosso país movimentou de março de 2001 a março de 2008 R$ 8 bilhões, segundo informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda.
Como criticar o sistema capitalista e defender um modelo de economia mais solidário quando algumas igrejas são proprietárias de bancos, empresas, emissoras de rádio, tv, etc?
Desde muito tempo, vender pedacinhos do céu, comprar a redenção dos pecados por módicas quantias é um negócio altamente rentável. Uma das razões dessa grande rentabilidade é que certas igrejas operam como verdadeiras empresas e possuem uma série de benefícios fiscais, permitindo que elas “não dêem a César o que é de César”. Segundo a jornalista Fabiana Futema (Jornal Folha. 11/07/2005), as igrejas não pagam Imposto de Renda e em alguns casos, são isentos do IPVA e do IPTU.
Muitas correntes religiosas pregam o desapego material para seus fiéis mas constroem verdadeiros impérios, cercados de luxo e de ostentação. O voto de pobreza e de solidariedade aos pobres chega a soar como hipocrisia para algumas religiões.
Existem casos, onde escolas e hospitais administrados por entidades religiosas foram construídos e melhorados mediante doações de fiéis e mais tarde se tornaram empresas particulares, que só atendem aqueles quem tem DINHEIRO.
Ou muito me engano mas, Jesus Cristo não fazia distinção entre as pessoas. Ele ajudou ricos e pobres, aconselhou enfermos, bandidos e prostitutas e jamais cobrou por isso.
Muitas igrejas não lhe darão mais do que palavras, mas lhe pedirão tudo o que você tem. Será que lhe darão comida quando estiver com fome; água quando estiver com sede ou roupas quando estiver nu? Mas se isso acontecer, esse será um momento sagrado de caridade onde o verbo se torna ação e o verdadeiro exemplo de Cristo é posto em prática.
Luiz Fernando Roscoche
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