Em face a ineficiência do estado em promover a defesa dos interesses sociais, nos últimos anos viu-se crescer de maneira significativa o número de organizações não governamentais, chegando no final do século XX a atingir a cifra de 20.000 organizações. Organizações estas que vem se servindo das mesmas “armas”, do processo de globalização, ou seja, utilizando-se das tecnologias de comunicação, como a internet, por exemplo. Esta se criando gradativamente no mundo inteiro, uma rede de pessoas ligadas por interesses comuns, que trocam informações e criam mobilizações no sentido da defesa de seus interesses. Um exemplo nítido deste processo ocorreu no ano de 1999 em Seattle, nos Estados Unidos, quando mais de 50.000 mil pessoas, de 700 organizações diferentes fizeram um protesto contra a reunião da Organização Mundial do Comércio, organizada pelo Fórum nacional de sobre a Globalização. O mais interessante é perceber que dentre as organizações que participaram deste protesto contra a globalização era possível encontrar entidades ligadas a sindicatos, entidades de defesa dos direitos humanos, ambientalistas, etc. A diversidade da composição deste protesto mostra na verdade o senso de cidadania das pessoas que sabem que as políticas arbitrárias da OMC, priorizam o sistema econômico e esquecem do social, sejam eles operários, ambientalistas, funcionários públicos, etc. Muitas vezes não é raro a mídia nacional e até internacional mostrar uma visão deturpada e descontextualizada por estes movimentos sociais, tidos como exemplos de caos e desordem. Certamente podemos encontrar alguns baderneiros entre os manifestantes, mas eles certamente não são a maioria.
Por outro lado, é possível compreender estas explosões de violência quando se percebe que mesmo que se dialogue, discuta e se manifeste, a voz da sociedade não é ouvida pelas autoridades mundiais. Além de não ouvir o Estado usa da legitimação da forças policiais e militares para impedir manifestações, infringindo não só os direitos humanos, mas a própria democracia. Prova disso é que muitos países e protestos no mundo inteiro não foram o bastante para deter o ataque americano ao Iraque, que agiu de maneira unilateral e bárbara, da mesma forma com vêem procedendo em relação aos acordos ambientais internacionais.
A Coalizão de Seattle em 2001 de forma pacífica realizou no Brasil um dos maiores acontecimentos sociais do mundo, com a realização do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, quando milhares de ativistas pesquisadores e outras pessoas das mais diversas partes do mundo se reuniram para discutir em torno do lema “Um outro mundo é possível”. Quase em concomitância com este evento uma pequena elite do poder mundial se reunia em Davos na Suíça para decidir o futuro econômico do mundo, através do Fórum Econômico Mundial. Percebe-se assim uma visão extremamente estreita dos líderes mundiais que enxergam o sistema econômico com um fim em si mesmo, não percebendo que este deve existir em função de uma sociedade. Sociedade esta que paga diariamente pelos impactos gerados pelo modelo econômico vigente, pois este por sua vez, se esquece que uma sociedade acaba pagando não só os custos econômicos, mas também os custos sociais e ambientais do modelo de “desenvolvimento”.
Acredito que um “Outro mundo é possível”, quando esquecemos as diferenças e nos unimos em prol da resolução de problemas em comum. Acredito ainda que a defesa de nossos direitos não deve ser feita somente por um ou outro grupo as sociedade mas sim um por todos, num exercício de cidadania.
Luiz Fernando Roscoche
terça-feira, 2 de março de 2010
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